Contos curtos de Carlos Alberto Silva, resultado das colaborações na página do Facebook «Escrita de microficção», no blogue «77 palavras» e outros. [Todos os textos são redigidos em total desprezo pelo actual (des)acordo ortográfico]
quarta-feira, 11 de março de 2020
O espirro traquinas
Andava um espirro a jogar à macaca sozinho numa rua da cidade, quando se viu rodeado por uma turba de moradores, que barafustava com ar ameaçador:
- O que andas aqui a fazer, malvado?
- Raspa-te, que não te queremos aqui.
- Vai lá para a tua terra.
- Pensas que te deixamos vir para a nossa rua lançar o pânico e a doença? Estás muito mal ensaiado...
O espirro bem tentou argumentar, mas em vão:
- Mas eu só quero jogar à macaca...
- À macaca? Não desconverses. Onde há um espirro, há uma tosse e onde há uma tosse há uma febre. Espirros, tosses e febres são exactamente o tipo de coisas que não queremos por cá.
Quando o espirro tentou contra-argumentar, os outros atiraram-se a ele, gritando:
- Anda cá, espirro maldito, que já te damos o arroz.
E tentaram caçá-lo com umas redes de apanhar borboletas que traziam nas mãos.
No entanto, o espirro era mais rápido e escapava-se sempre.
A coisa até era divertida, pensava o espirro. Primeiro, não o deixavam jogar à macaca, mas agora estavam todos a jogar à apanhada com ele. E ele estava a ganhar!
De repente, o espirro sentiu uma enorme comichão dentro do nariz, disse «Atchim!» e desapareceu no ar.
Os moradores deram vivas inflamados e foram a correr para casa lavar as mãos e a goela com uma solução alcoólica, durante um minuto e vinte segundos. Mas de nada lhes valeu...
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Muito real! ;)
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