Estava um homem confinado no seu domicílio, por razões que não interessam para agora. Sentindo-se aborrecido por não ter nada para fazer, pegou num baralho de cartas e pôs-se a organizar um jogo de paciências.
Começou por baralhar bem as cartas e colocou-as em várias pilhas sobre a mesa, com a face virada para baixo. Depois, preparou-se para virar a primeira carta de cada pilha, de forma a organizar sequências de cada naipe.
Assim que virou a primeira carta, foi surpreendido por uma voz irritada, que lhe disse:
- Deixa-me em paz, que hoje não estou para brincadeiras!
- Quem foi que falou? Está aqui mais alguém?
- Deixa-te de palermices, não vês que sou eu?
- Eu, quem? - titubeou o homem.
- Eu, o valete de paus que acabaste de virar!
O homem olhou para o tampo da mesa e deu um salto na cadeira. A figura na carta que acabara de virar estava viva. E falava! O homem não sabia o que fazer, nem que dizer.
- Porque é que estás a olhar para mim com essa cara de parvo? Volta a pôr-me no sítio ou levas uma paulada. Já te disse que hoje não estou para brincadeiras! - rugiu o valete de paus.
O homem engoliu em seco e virou a carta para baixo, colocando-a na pilha. Respirou fundo e pensou «não, isto não aconteceu, estou há demasiado tempo fechado em casa, sem nada que fazer, já estou a ouvir coisas». E foi até à janela, tomar uma golfada de ar fresco. De longe, olhou para as cartas dispostas sobre a mesa e abanou a cabeça, dizendo:
- Não, isto não aconteceu! Devo ter adormecido e tive um pesadelo.
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