A julgar pelo que se ouve por aí, para além do tal ordenamento florestal, o país precisa também de algum «ordenamento mental».
Contos curtos de Carlos Alberto Silva, resultado das colaborações na página do Facebook «Escrita de microficção», no blogue «77 palavras» e outros. [Todos os textos são redigidos em total desprezo pelo actual (des)acordo ortográfico]
terça-feira, 17 de outubro de 2017
Chiu! (2)
- Olha lá, também vais à manifestação?
- Chiu!
- Já me calei.
Chiu!
Pensou ir à «manifestação silenciosa»,
mas quando andava com gases
era pior que uma buzina de camião.
Censura
A saCristas conjugando argumentos
para a moção de censura:
- Eu calipto, tu caliptas, ele calipta...
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
Demissão
- Demitam a ministra! - berrava o bode "espiatório" -. Aplaquemos os deuses com um sacrifício político. O resto, é deixar arder...
sábado, 14 de outubro de 2017
Sexta 13
Ontem foi sexta 13 e não dei por nenhuma bruxa a circular de vassoura. Já de carro...
Pedro e o... Diabo
Pedro profetizava a vinda do Demo, mas a este não lhe apetecia vir.
Farto de ser invocado em vão, o Diabo carregou com Pedro.
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Pão pão
- Quero um pão, se faz favor.
- Quer um destes? Ou um destes? Ou destes... Temos 37 variedades.
- Não, só quero um pão.
Ó Nesco!
- Alô? É só pa dezer que me derrisquem dessa coisa da ónesco, ó lá uquié. Sisso num presta pós camones, tamém num quero. Óbrigadinho.
terça-feira, 10 de outubro de 2017
Terrorismo intestinal
Comprou repolho, feijão, cebolas e ovos.
Preparava-se para um atentado com gás letal
depois do jantar.
Pesadelo
Eu
ia sozinho pela estrada, a ver o estrago provocado por aquele fenómeno estranho. Tudo começara com um estrépito no céu estrelado. O dano era estremo.
Um turbilhão estrídulo deixara o
mato estrinçado, as aves estripadas, as árvores estroncadas, os bichos estropiados. Que fora aquilo?
Até
que o vi. Um grifo, rindo cavernosamente como riem todas as bestas mitológicas.
Apavorado,
gritei:
-
Vai-te! És um estronço sem estrutura, um verdadeiro estrupício cheirando a estrume.
E a seguir acordei.
Cornada
Relatava a tourada para a rádio quando foi colhido
por uma vaca tresmalhada.
- Coitado, até era um «cornista» simpático...
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
Nativo digital
Mandou tatuar todo o corpo com zeros e uns.
Não percebia peva de computadores, mas agora
sentia-se um verdadeiro «nativo digital».
A bebida
Era a primeira vez que bebia aquilo.
Pouco depois, declarava:
- Acho que não me absinto bem!
Estudos «científicos»
De acordo com um estudo do famoso cientista I. N. Sone,
«quando não se consegue dormir, fica-se com sono».
(Já antes o seu colega «F. A. Meentaw» tinha concluído noutro estudo que
«quando não se come, fica-se com fome».)
domingo, 8 de outubro de 2017
«Dezentendimento»
- Ontem há noite adurei e tu gostas-te? - teclou ele.
- Sim, gosto-me. Adeus! - concluiu ela.
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
Efeméride
Também ele celebrou o Dia do Animal.
Não tinha cão nem gato, mas tinha piolhos.
sábado, 30 de setembro de 2017
Queixa do doente intermitente
Ai doutor, que terei eu,
Que me sinto intermitente:
Ora acordo com vigor
Ora me ponho dormente;
Ora me assola a febre
Ora gelo de repente;
Ora me dá o fastio
Ora como avidamente;
Ora me invade a tristeza
Ora pulo de contente;
Ora perco a paciência
Ora fico benevolente;
Ora me interesso por tudo
Ora tudo me é indiferente.
Diga-me lá, por favor,
Sendo médico experiente,
Isto é moléstia incurável
Ou acontece a toda a gente?
Reflexão
Olhou para o espelho
na véspera das eleições.
Viu que estava demasiado lixado
para outras reflexões.
para outras reflexões.
sexta-feira, 29 de setembro de 2017
O 'boto' do galo
«No dia 1, bou botar! E tu?»
disse a galinha ao galo de Barcelos.
«Eu, só se for um de loiça», gargalhou ele.
terça-feira, 26 de setembro de 2017
Ideias de...
Era um tipo sempre cheeeeio de ideias.
Mas depois ia à casa de banho
e aquilo passava-lhe.
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
Percevejos
Passou a noite em Lisboa.
Revistou a cama, à cata de percevejos.
Aliviado, concluiu:
- Ufa! Não percevi nenhum!
domingo, 24 de setembro de 2017
Virilidade
As autárquicas estão a ficar muito «viris».
Uns oferecem chouriços, outros... tomates.
Contraceptivo
Será que alguns candidatos
estão a oferecer preservativos
para que os seus eleitores
não emprenhem pelos ouvidos?
sábado, 23 de setembro de 2017
O candidato
O Chóriço quer candidatar-se à Junta lá da terra pelo partido das setinhas.
- Ó pá, não pode ser... - recusou o presidente da concelhia.
- Nã pode pruquê?
- Com um nome desses?
- Eu ache qu'o nome é uma vantage. Em vez dum otoclante, ofrecia um chóriço a cada pessoa. Olhó outro... aquele de Braga.
- Não. Nem assim.
- Ai não? Atão e se for assado?
- Ó pá, não pode ser... - recusou o presidente da concelhia.
- Nã pode pruquê?
- Com um nome desses?
- Eu ache qu'o nome é uma vantage. Em vez dum otoclante, ofrecia um chóriço a cada pessoa. Olhó outro... aquele de Braga.
- Não. Nem assim.
- Ai não? Atão e se for assado?
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Em campanha
![]() |
Ilustração de Kaine Lacerda |
- Sua esta, sua aquela!
- Isso és tu e a tua mãezinha!
Até que surge o maior ultraje, a ofensa suprema:
- Sabes o que és, sabes?
- Não, mas tu vais dizer-mo, não é?
- Vou. És uma grandessíssima filha da… po-lí-ti-ca!
Caça ao voto
Carregou a cartucheira com esferográficas,
calendários, porta-chaves...
- Onde vais? - perguntou a mulher.
- Vou caçar votos!
cão-panha
Ladram os cães, atrás da caravana partidária.
Diz alguém: - Aqueles andam em cão-panha!
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
O desatino de Vermelhusca
Vermelhusca foi levar uma bucha à avó enferma. Ignorando as advertências da mãe, deambulou pela mata. Apareceu-lhe um lobo de falinhas mansas e ajustaram uma corrida.
Em três tempos, o bicho alcançou a casa da velha. Atemorizada, a senhora encafuou-se no guarda-fatos. Com artes de transformista, o carnívoro aninhou-se na cama dela.
Ao chegar, Vermelhusca desatinou com aqueles preparos: era tudo em grande, sobretudo os dentes...
Acudiram uns lenhadores, que escorraçaram a fera, salvando avó e neta.
Etiquetas:
77 palavras,
contos de fadas inversos
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
O que não tem remédio...
O problema era bicudo.
Não achando solução,
ela optou por um solucinho.
terça-feira, 19 de setembro de 2017
Hortugrafia
«Nao! - respondeu o candidato a escritor. -
Nao sao errus hortugraficos, é iscrita queriativa. Daaaa...».
segunda-feira, 18 de setembro de 2017
O consorte
Quando descobriu que a noiva,
escolhida pelo rei seu pai,
era bela e inteligente,
ele percebeu que era
um príncipe com sorte!
sábado, 16 de setembro de 2017
Os passarinhos
Estão dois passarinhos pousados numa árvore
e diz um para o outro:
- Olha, sabes que mais? Vou mudar de ramo!
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
Notícias falsas
Dedicava-se à criação de «fake news».
Era um dos tais que dizem «inventos»
em vez de «eventos».
segunda-feira, 31 de julho de 2017
A senhora pequenina
Tradução e adaptação de Carlos Alberto Silva de um antigo conto infantil inglês (de fantasmas). A capa apresentada é apenas umas das muitas versões da história.
Era uma vez uma senhora pequenina que morava numa casa pequenina numa aldeia pequenina. Um dia, a senhora pequenina vestiu o seu casaco pequenino e saiu da sua casa pequenina para fazer uma caminhada pequenina.
segunda-feira, 3 de julho de 2017
A lagarta e as cerejas
Uma lagarta de Rhagoletis Cerasi nasceu, como seria de esperar, dentro de uma cereja. Assim que saiu do ovo, começou logo a dizer mal da sua vida:
- Que raio de cereja onde eu havia de nascer, tão azeda e descorada, que pior não há-de haver.
Descontente com a sua sorte, decidiu buscar outra morada.
Arrastando-se, arrastando-se, procurou uma cereja mais a seu gosto. Assim que se instalou, começou de novo a reclamar:
- Que raio de cereja havia eu de escolher, neste canto onde o sol não chega. Aqui, morrerei de frio.
E arrastando-se, arrastando-se, procurou outra cereja mais o seu gosto.
- Que raio de cereja onde eu havia de nascer, tão azeda e descorada, que pior não há-de haver.
Descontente com a sua sorte, decidiu buscar outra morada.
Arrastando-se, arrastando-se, procurou uma cereja mais a seu gosto. Assim que se instalou, começou de novo a reclamar:
- Que raio de cereja havia eu de escolher, neste canto onde o sol não chega. Aqui, morrerei de frio.
E arrastando-se, arrastando-se, procurou outra cereja mais o seu gosto.
domingo, 2 de julho de 2017
A laranjeira do Ogre
O Ogre da Cornualha plantou no seu jardim uma laranjeira. Durante vários anos, nunca frutificou, embora ele cuidasse dela com todo o esmero.
Até que, finalmente, ao sétimo ano, vingou uma laranja. Quando esta amadureceu, o Ogre saboreou-a, deliciado, e desistiu da ideia de arrancar a laranjeira.
Ao oitavo ano, a árvore deu quatro laranjas. Ao nono, deu oito.
- Está a progredir! - exultou o Ogre.
No entanto, ao décimo ano, a laranjeira deu apenas três... pintassilgos.
Até que, finalmente, ao sétimo ano, vingou uma laranja. Quando esta amadureceu, o Ogre saboreou-a, deliciado, e desistiu da ideia de arrancar a laranjeira.
Ao oitavo ano, a árvore deu quatro laranjas. Ao nono, deu oito.
- Está a progredir! - exultou o Ogre.
No entanto, ao décimo ano, a laranjeira deu apenas três... pintassilgos.
sábado, 1 de julho de 2017
O dilema do extraterrestre
Zhlarg conduziu a astronave em direcção ao seu objectivo. A
missão que lhe fora incumbida pela Confederação Intergaláctica era clara:
desparasitar o único planeta habitável do sector VLS9. No porão na nave vinha,
pronto a ser usado, o dispositivo de eliminação selectiva.
Quase a chegar, fez um giro de reconhecimento pela zona iluminada do pequeno satélite inerte e vociferou:
- Raios os partam, já arranjaram maneira de vir para aqui também, estragar... Tenho de pôr cobro a isto!
Rumou então em direcção à grande esfera azulada.
Quase a chegar, fez um giro de reconhecimento pela zona iluminada do pequeno satélite inerte e vociferou:
- Raios os partam, já arranjaram maneira de vir para aqui também, estragar... Tenho de pôr cobro a isto!
Rumou então em direcção à grande esfera azulada.
quarta-feira, 28 de junho de 2017
O peido
A audiência estava ao rubro. A abertura do concerto estivera a cargo da banda de covers «Deep Purple Throat». Era agora a vez da tão ansiada actuação dos «Intestinal Scream», iniciadores do «Gut Metal Rock».
Quando o vocalista, maquilhado a rigor, entrou em cena, o público aplaudiu-o calorosamente.
Imóvel, no meio do palco, o cantor levantou os braços. Fez-se silêncio. Foi então que anunciou que iria fazer um statement.
O baterista rufou a percussão e fez tinir os pratos. O solista dedilhou um intrincado arpejo na guitarra eléctrica. E o baixista arrancou um longo mugido do seu instrumento.
Quando o vocalista, maquilhado a rigor, entrou em cena, o público aplaudiu-o calorosamente.
Imóvel, no meio do palco, o cantor levantou os braços. Fez-se silêncio. Foi então que anunciou que iria fazer um statement.
O baterista rufou a percussão e fez tinir os pratos. O solista dedilhou um intrincado arpejo na guitarra eléctrica. E o baixista arrancou um longo mugido do seu instrumento.
A casa (des)assombrada
Tinha
fama de assombrada. À noite, as pessoas passavam ao largo, receosas. Diziam que
se viam, lá dentro, luzes estranhas e se ouviam ruídos tenebrosos.
Situada
perto do caminho-de-ferro, estava rodeada por um denso matagal. A pátina do
tempo fazia-a parecer, cada vez mais, soturna e decadente. Não obstante, as
paredes e o telhado continuavam íntegros e firmes.
Dizia-se que pertencera a uma família distinta a quem um acidente trágico
dera sumiço. No entanto, não havia quem se lembrasse do nome deles, quem eram
ou o que faziam.
terça-feira, 27 de junho de 2017
No bosque de Pã
Os eventos daquela manhã prenunciavam mais um dia miserável. Para começar, o carro deu o berro à porta de casa. Resignado a tomar o autocarro, percorreu a contragosto o caminho até à paragem mais próxima. Não chegou a tempo e o seguinte só passaria daí a uma hora, tarde demais Para piorar, começou a cair uma chuva miudinha, insistente. Não trouxera guarda-chuva e sentia a humidade a repassar-lhe os ossos.
Decidiu meter os pés ao caminho e tomar um atalho através do parque. A terra amolecida cedia debaixo dos sapatos, conforme se ia embrenhando entre as árvores. Entregue a si própria, aquela massa vegetal era mais um bosque selvagem que um parque. Mas isso não o preocupava, era território conhecido. Por ali, ganharia, pelo menos, meia hora. Talvez conseguisse chegar a tempo.
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