quarta-feira, 5 de abril de 2023

A amêndoa fugitiva

 


- Socorro! Socorro! Ele quer-me comer! - gritava aterrorizada uma amêndoa de caramelo salgado, rebolando pelo chão de mosaico.

Atrás dela, vinha um rapazito gordo, de passada pachorrenta, mas segura:

- Ora esta! Ora esta! - balbuciava ele, com a boca cheia de doces -. Deixa estar, minha atrevida, que não me escapas!

Mas o terror da amêndoa fugitiva era maior que a gula do rapazote e esta acabou por se distanciar. Aproveitando a porta entreaberta, escapuliu-se para a rua.

O sol primaveril brilhava glorioso e a amêndoa teve um lampejo de esperança. Finalmente, estava livre. Poderia cumprir o seu maior sonho e ir correr mundo.

Aproximou-se da borda do passeio e dispôs-se a atravessar a rua. No entanto, um carro que passava naquele instante, zás!, atropelou-a.

Na soleira da porta, o rapaz olhava incrédulo para a amêndoa esborrachada.

- Ora esta! Ora esta! Ficou feita em papas. Não faz mal, ainda tenho um pacote quase cheio! - concluiu ele, fechando a porta atrás de si.

Quem se regalou foi um pardalito que por ali andava, voltando para o ninho com o papo cheio de doces migalhas.

- Páscoa Feliz! Páscoa Feliz! - cantava ele, todo contente.

Sem comentários:

Enviar um comentário