domingo, 19 de agosto de 2012

Homem de palha



Às vezes, no meio do campo, um homem de palha botava discurso às aves esquivas. Exaltava a solidez da sua morada permanente, com ampla vista sobre o mundo circundante. O pé bem fixo na terra tornava-o forte, temido, imune ao sobressalto das estações. Ali, onde estava, vigiava o próprio ciclo da vida e da morte. Arrogava-se, por isso, Senhor do Tempo.
Mas as aves não o ouviam. Bastava-lhes abrir as asas e o mundo era todo delas.

Resposta ao desafio nº 15 do blogue 77palavras.blogspot.pt de Margarida Fonseca Santos. Frase inicial retirada do «Romance da Raposa», de Aquilino Ribeiro. 

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