quinta-feira, 25 de abril de 2024

A menina Liberdade

Ilustração de Ana Luísa Oliveira (ilustradora)

Tem uma cabeleira ruiva, sempre desgrenhada, e um sorriso gaiato a iluminar-lhe a cara sardenta. Chama-se Liberdade. Desde pequenina que faz jus ao nome que lhe puseram. Adora andar descalça, chapinhar nas poças de água, subir às árvores e deitar-se na relva, seguindo com o olhar o voo das andorinhas. Delicia-se com o verde dos bosques, o aroma das flores e o cantar dos pássaros. Ama a Primavera e Abril é o seu mês favorito.

Liberdade tem ideias muito próprias e imagina histórias a partir das formas das nuvens em movimento. Histórias em que ninguém passa fome ou frio, em que ninguém tem medo e todos são felizes.

Tem muitos amigos e está sempre pronta a ajudar a resolver os pequenos diferendos que por vezes surgem entre eles. Para ela, todos têm a sua razão e basta apenas encontrar um ponto em comum. Porque, diz ela, as pessoas têm mais coisas em comum do que diferenças. E, a partir desse ponto, é sempre possível construir um entendimento.

No entanto, alguns acham a menina Liberdade estouvada e impertinente e dizem-lhe:

- A menina tenha juízo!

Mas ela ri-se e não lhes liga. Acha-os «velhos», independentemente da idade. Porque «velhos», diz ela, são todos os que não conseguem apreciar a liberdade dos outros. São todos os que clamam por «respeitinho», mas não respeitam as diferentes formas de ver o mundo e viver a vida, porque querem que o mundo seja apenas como eles acham que deve ser.

Por vezes, os «velhos», que não suportam o espírito indomável da menina Liberdade, tentam ir mais longe. E, por vezes, ela sai magoada dessas investidas...

Mas Liberdade nunca desanima. Engole as lágrimas, esboça um sorriso e continua a ser como sempre foi: optimista e alegre, cordata e tolerante, fraterna e solidária, como só a Liberdade pode ser.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Uma flor clandestina num país a preto e branco

Era uma flor, uma flor clandestina. Nascera em segredo, num recanto escondido de um país a preto e branco, onde as cores eram proibidas. Não era dali, com certeza, pois era muito colorida.

Não se sabe como foi ali parar aquela flor. Talvez tivesse sido uma semente trazida pelo vento ou pelas asas de um pássaro, de muito, muito longe, que germinara na terra negra e húmida.

De dia para dia, as pétalas daquela flor clandestina ficavam cada vez mais coloridas. Eram sete pétalas, sete cores, as cores do arco-íris: uma pétala vermelha, da cor do fogo e da coragem; uma pétala laranja, da cor do sol e da alegria; uma pétala amarela, da cor das searas e da fraternidade; uma pétala verde, da cor dos prados e da esperança; uma pétala azul, da cor do céu e da liberdade; uma pétala lilás, da cor da madrugada e do amor; uma pétala violeta, da cor do poente e da paz.