- Socorro! Socorro! Ele quer-me comer! - gritava aterrorizada uma amêndoa de caramelo salgado, rebolando pelo chão de mosaico.
Atrás dela, vinha um rapazito gordo, de passada pachorrenta, mas segura:
- Ora esta! Ora esta! - balbuciava ele, com a boca cheia de doces -. Deixa estar, minha atrevida, que não me escapas!
Mas o terror da amêndoa fugitiva era maior que a gula do rapazote e esta acabou por se distanciar. Aproveitando a porta entreaberta, escapuliu-se para a rua.
O sol primaveril brilhava glorioso e a amêndoa teve um lampejo de esperança. Finalmente, estava livre. Poderia cumprir o seu maior sonho e ir correr mundo.
Aproximou-se da borda do passeio e dispôs-se a atravessar a rua. No entanto, um carro que passava naquele instante, zás!, atropelou-a.
Na soleira da porta, o rapaz olhava incrédulo para a amêndoa esborrachada.
- Ora esta! Ora esta! Ficou feita em papas. Não faz mal, ainda tenho um pacote quase cheio! - concluiu ele, fechando a porta atrás de si.
Quem se regalou foi um pardalito que por ali andava, voltando para o ninho com o papo cheio de doces migalhas.