sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A salsicha albina


Uma salsicha comum vivia amargurada com o estranho facto de sofrer de albinismo. Enquanto as suas irmãs exibiam uma tez digna dos efeitos de um Verão soalheiro, ela, por sua vez, era pálida e mirrada como um espargo desidratado. Já tinha tentado de tudo, mas não havia processo de bronzeamento - natural ou artificial - que lhe pudesse valer. Albina nascera, albina haveria de fenecer.
As outras salsichas, embora não se aproveitassem do facto para abusar dela, não conseguiam passar sem, ocasionalmente, fazer alguns comentários jocosos. O que irritava ainda mais a albina, que achava a atitude das irmãs de uma condescendência insuportável.
Se por frustração ou por inveja, não se sabe. O que é certo é que o deslavado enchido acabou por se tornar no manda-chuva da salsicharia. E, durante anos, vem cozinhando acordos e apoios para se manter no poleiro, hipotecando a sua consciência junto da clique carnívora que vive à custa do sangue, do suor e das lágrimas das suas irmãs.

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